Desde a década de 1990, quando ensino e pesquisa no Brasil ainda não eram tão vinculados, o médico mineiro Eduardo Back Sternick vem dedicando boa parte de seu tempo à pesquisa clínica. Pesquisador, cardiologista clínico e arritmologista, Sternick divide sua atuação entre o fazer assistencial da medicina e o fazer científico, dinâmica a que foi exposto a partir do período de sua especialização em arritmia na Holanda, no final da década de 1980. Os vários anos de comprometimento com a pesquisa clínica, no exterior e no Brasil, lhe renderam dois convites pouco comuns para brasileiros residentes no país, ser editor associado de duas importantes publicações científicas da cardiologia mundial: Europace (Sociedade Europeia de Cardiologia), e Journal of the American College of Cardiology–Clinical Electrophysiology (American College of Cardiology).
Quando voltou a Belo Horizonte, no início dos anos 90, começou a trabalhar no Biocor Instituto. Neste ambiente, Sternick realizou procedimentos eletrofisiológicos e a partir de 1992 ablações por cateter de arritmias cardíacas. Os anos 90 foram de consolidação do setor. A partir de 2001 com um banco de dados mais sólido, foi possível começar a publicar alguns artigos, a partir de uma linha de pesquisa em vias acessórias. Houve um incremento no volume de publicações em 2004, quando defendeu seu doutorado em Eletrofisiologia Cardíaca na Universidade de Maastricht, na Holanda. Uma segunda linha de pesquisa foi introduzida em arritmias geneticamente determinadas, a partir de 2005.
Essa última pesquisa, cujo tema tratou da miocardiopatia por depósito de glicogênio, foi premiada como melhor trabalho apresentado no Congresso Brasileiro de Arritmia Cardíaca em 2004, sobre Síndrome de Pseudo-Wolff-Parkinson-White familiar. “A PRKAG2 desempenha um papel na regulação das vias metabólicas do coração e as mutações neste gene estão associadas à pré-excitação ventricular familiar, cardiomiopatia hipertrófica e distúrbios da condução atrioventricular. Hoje, acompanhamos oito famílias e em torno de 44 pessoas com esse problema, com foco na prevenção de morte súbita”, comentou Sternick.
Recentemente, em março de 2020, o médico recebeu uma premiação da Editora Wiley por um de seus artigos ter sido um dos mais lidos da revista Journal of Cardiovascular Electrophysiology dos anos 2018-2019. “Em abril de 2020, o editor chefe do Journal of the American College Of Cardiology Clinical Electrophysiology – JACC CEP, Dr. Kayanan Shivkumar, da UCLA, convidou-me para ser editor associado da revista americana”, contou. “Minha contribuição deverá ser em uma seção mensal relacionada a casos selecionados de abordagem de arritmias complexas”. O convite para editor associado tem relação direta com o impacto científico das publicações, e isso é um reconhecimento científico importante.
Conhecimento científico e prática clínica
Para Sternick, as melhores práticas médicas devem ser lastreadas em evidências científicas. “Dessa forma o papel das Universidades não deve se limitar em formar bons profissionais, mas também em iniciá-los numa agenda de construção do conhecimento”, acredita. Ele acredita que o binômio ensino e pesquisa vem se expandindo. Na UFMG, por exemplo, mais de 90% dos docentes já têm atuação em pesquisa, e existem setores com grande reconhecimento internacional. Outro fator fundamental é a internacionalização do ensino e pesquisa. A colaboração multi e interdisciplinar bem como o estabelecimento de uma rede de conexão internacional é chave para enfrentar os grandes desafios da pesquisa. No Brasil, órgãos como CNPq e CAPES embutem em suas métricas esses critérios ao avaliar os programas de Pós-Graduação.
De acordo com o pesquisador, os alunos de graduação em áreas médicas e afins precisam ser estimulados a participar de projetos científicos, trazendo um impacto positivo e certamente modelando futuros pesquisadores. “Minha experiência com alunos de iniciação científica sempre foi gratificante. O cenário atual da COVID-19, por exemplo, tendo o Brasil como o epicentro atual da crise, além dos dramas familiares, sociais e econômicos, traz em si uma oportunidade para que nossos cientistas possam efetivamente contribuir por meio de estudos sérios, bem desenhados e executados com o tratamento e prevenção da doença”.
“O Brasil precisa ocupar um espaço maior no setor, a exemplo do que foi feito na Coréia do sul e Japão, que tem uma participação expressiva em publicações em revistas de alto impacto e produção de patentes”, finaliza Sternick.
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